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Principais pontos:
- A automedicação é comum entre pessoas com TDAH devido à busca por alívio de desconfortos emocionais.
- Tratamentos adequados que vão além da medicação podem prevenir a automedicação.
- Fortalecer habilidades socioemocionais é crucial para crianças com TDAH.
- Adultos com vícios podem ter TDAH não diagnosticado.
Sumário:
- O fascinante mecanismo por trás da automedicação das pessoas com TDAH
- Por que o tratamento inadequado do TDAH pode acentuar a busca por automedicação?
- Cena cotidiana: entre a calma e a tensão
- Insights práticos para pais: como prevenir a automedicação em crianças com TDAH?
- Adultos com vícios: um possível TDAH não diagnosticado?
- Conclusão
O fascinante mecanismo por trás da automedicação das pessoas com TDAH
Para começar, vamos entender melhor essa questão da automedicação: o que, afinal, torna as pessoas com TDAH mais suscetíveis a buscar substâncias químicas ou atividades compulsivas para se autorregular?
Na essência, precisamos compreender o TDAH não como uma doença, mas sobretudo como um transtorno de desenvolvimento. Isso significa que, enquanto uma criança sem esse transtorno amadurece neurologicamente num determinado ritmo, uma criança diagnosticada com TDAH possui um atraso em certas áreas cognitivas, especialmente aquelas relacionadas à atenção, controle impulsivo, gestão emocional e organização.
Como resultado, essas crianças crescem sentindo um desconforto frequente, uma inquietude interna irritante que muitas vezes buscam aliviar. O cérebro humano é brilhante: quando percebe desconforto, automaticamente busca caminhos para sentir-se melhor.
E é exatamente aqui, nessa busca por alívio rápido, que reside o potencial perigo da automedicação. Pesquisas científicas já demonstraram essa tendência com clareza. Um estudo publicado revela que 32% dos adolescentes que começaram a usar metanfetamina entre 10 e 15 anos o fizeram justamente pelo efeito calmante que a droga exercia em suas mentes inquietas. Em experimentos com ratos, inclusive, verificou-se o mesmo padrão: quanto mais hiperativo era o animal, maior era sua tendência a buscar estímulos químicos externos para autorregular-se.
É perturbador perceber como isso também acontece com nossos filhos. Será que já paramos para refletir sobre o que realmente eles estão tentando regular emocionalmente ou controlar através dessas buscas? Vale a pena a reflexão.
Por que o tratamento inadequado do TDAH pode acentuar a busca por automedicação?
Uma questão central que precisamos discutir é a maneira como o TDAH é tratado. Por muito tempo, houve uma medicalização rápida e muitas vezes exagerada das crianças diagnosticadas. Medicamentos como Ritalina e similares ganharam um espaço muito grande na vida escolar e familiar. É importante ressaltar que, bem utilizados, esses medicamentos têm sua importância e eficácia cientificamente comprovada.
Porém, aqui vai um alerta crítico com suavidade: a medicalização nunca deveria ser vista como única ou primeira opção no tratamento infantil. O ideal é utilizar uma abordagem ampla, equilibrada e multifacetada, centrada no desenvolvimento emocional, psicológico e social da criança.
Afinal, embora medicamentos possam frequentemente controlar sintomas como hiperatividade, impulsividade e dificuldade de concentração, eles não tratam isoladamente as raízes do desconforto emocional e do atraso maturacional por trás do transtorno.
É precisamente aí, quando a criança cresce e enfrenta a adolescência e o início da idade adulta, que surgem comportamentos de automedicação. Muitas vezes são indivíduos que não aprenderam estratégias suficientes de organização, autorregulação emocional, gratificação saudável nem formação de hábitos produtivos no cotidiano.
Pesquisas indicam claramente: crianças diagnosticadas com TDAH devidamente identificadas e tratadas apresentam risco significativamente menor de desenvolver dependências químicas na vida adulta se comparadas às que ficam sem diagnóstico ou com abordagens exclusivamente farmacológicas. Isso ocorre justamente por receberem apoio integral e encontrar maneiras mais adequadas de lidar com seu desconforto mental.
Não acredita? Então vamos pensar em um exemplo prático.
Cena cotidiana: entre a calma e a tensão
Imagine o seguinte: Lucas, aos 11 anos, diagnosticado com TDAH. Os pais aceitaram rapidamente a prescrição médica para remédios sem considerar terapias ou acompanhamentos adicionais. Inicialmente, os sintomas diminuem. Lucas fica mais “quietinho e comportado”, mas por dentro continua inseguro e com dificuldades para lidar com sentimentos. Quando alcança a adolescência, se sente inadequado socialmente, ansioso e inseguro em relação a si mesmo.
Como não foi treinado em habilidades emocionais que suas dificuldades exigiam, ele passa a buscar refúgio nas substâncias que trazem rápidas sensações de confiança, alívio e calma momentânea. Café em doses exageradas para focar, álcool aos finais de semana para relaxar socialmente e, eventualmente, substâncias ilícitas são riscos frequentes.
E se, ao invés disso, Lucas tivesse sido abordado desde cedo – na infância – com um modelo familiar educativo focado na compreensão emocional, reforço positivo, autonomia com limites claros, construção interna de resiliência? Quantas dessas dificuldades poderiam não ter ocorrido ou seriam enfrentadas com maior habilidade e equilíbrio emocional?
Insights práticos para pais: como prevenir a automedicação em crianças com TDAH?
Agora que refletimos sobre o panorama dessa delicada relação entre TDAH e automedicação, quero compartilhar dicas práticas e comprovadamente eficazes que podem ser imediatamente aplicáveis na rotina com seus filhos:
- Conscientização e aceitação emocional desde cedo: Converse abertamente sobre o que ele sente. “Como você está hoje?”, “O que aconteceu na escola que te deixou inquieto?”. Quanto mais cedo normalizamos o diálogo emocional, menos essas crianças precisarão buscar alívio compulsivamente.
- Diversifique as estratégias além dos medicamentos: Considere sessões de psicoterapia infantil, atividades físicas estruturadas, meditação adaptada para crianças e estratégias de organização prática e lúdica para as tarefas escolares. Reforce hábitos nutritivos e rotinas de sono. O tratamento multifacetado é comprovadamente superior e protetor contra dependências futuras.
- Fortaleça as habilidades socioemocionais: Ensine com paciência e persistência a autorregulação emocional, técnicas simples de respiração, reconhecimento de emoções e resolução de conflitos interpessoais. Essas habilidades reduzirão significativamente a tendência rumo à automedicação futura.
- Pais conscientes: esteja atento a comportamentos compulsivos emergentes. Desde cedo, observe mudanças excessivas como uso intensivo de telas, doces ou alimentos compulsivamente consumidos, exigência frequente de estímulos novos e imediatos. Se perceber esses comportamentos surgindo, busque rapidamente orientação especializada.
Adultos com vícios: um possível TDAH não diagnosticado?
Antes de encerrar, quero tocar rapidamente naquele adulto que já enfrenta vícios estabelecidos. Uma descoberta importante das pesquisas realizadas sobre TDAH é justamente esta: adultos com comportamentos compulsivos severos frequentemente exibem sintomas não diagnosticados de TDAH.
Portanto, se você ou alguém próximo enfrenta tais desafios, vale fortemente considerar uma avaliação especializada. Abordar o transtorno pode ser a chave para enfrentar o vício de forma eficaz e sustentável, reduzindo o sofrimento e abrindo caminho para uma vida mais autêntica e equilibrada.
Conclusão
Em resumo, este tema precisa sair da sombra, ser debatido com empatia e atenção, sempre pautado no bom senso e respeito por nossos filhos. Que o diálogo seja aberto, que as estratégias preventivas ganhem espaço e que possamos criar filhos emocionalmente estáveis e fortalecidos, menos propensos a esse tipo de sofrimento.
E você, já havia pensado sobre o quão importante é essa abordagem mais integral e preventiva no tratamento do TDAH? Já percebeu algum sinal de automedicação compulsiva em seus filhos ou pessoas próximas? Compartilhe conosco nos comentários sua experiência, suas dúvidas e reflexões.
Afinal, a educação consciente começa pela troca de ideias e compartilhamento genuíno de experiências. Vamos juntos?
Até a próxima!