Frequentemente ouvimos dizer que “gosto não se discute”. Quando se trata do gosto por certos tipos de comida ou bebida, por exemplo, ou mesmo de literatura, uma certa relatividade na simpatia por determinados tipos é normal. Mas o juízo sobre essas e todas as coisas não se reduz ao elemento subjetivo dos sentidos.
Gustavo Corção foi um dos primeiros escritores brasileiros a insistir que o “liberalismo subjetivo” é a submissão da inteligência aos sentidos. É a opinião segregada pela vontade, isto é, a opinião que não vem do conhecimento, mas de um apetite.
Uma pessoa convencida pelo discurso do “gosto não se discute” muitas vezes não hesita em palpitar sobre arte, política, história, filosofia, ainda que esses assuntos não tenham tomado nem quinze minutos de estudo sério durante toda sua vida. É que, antes da reflexão, antes do estudo, antes do esforço, antes de qualquer coisa, vem o direito glorificado da opinião.
Para Corção, quem vive assim é um inimigo pessoal do Absoluto:
“Para essas pessoas, as coisas não são, mas valem; não têm um absoluto, medem-se; não existe uma verdade objetiva para cada coisa, apenas valores que são conferidos pelos sujeitos. A recusa diante da objetividade deturpa o conceito e transforma a opinião numa grande conquista em detrimento da verdade.”
Mas as coisas valem pelo que são, não apenas pelo valor que algumas pessoas lhe conferem. Elementos objetivos tornam a obra de Machado de Assis grandiosa, não o gosto de algumas pessoas pela literatura. Da mesma forma, gostar de um determinado livro ou de uma determinada música não os torna automaticamente “bons”, e desgostá-los não os torna automaticamente ruins.
Às vezes, a falta de apreço por determinadas coisas é apenas mau gosto. E o mau gosto é a falta de educação dos sentidos.