A saída para a polarização é a virtude

A disputa interna de forças políticas no contexto de uma sociedade democrática muitas vezes é impulsionada pela chamada “polarização”. Na época de Platão, algo semelhante acontecia em Atenas: a tensão provocada pelas constantes guerras trouxe um desastre para o espírito comunitário grego.

Essa tensão levou Sócrates a dedicar sua vida a pensar em como salvar sua cidade paterna.  Ele percebeu claramente que a catástrofe do espírito ateniense era consequência de um processo espiritual devastador. E a salvação, para ele, divisava um caminho estreito, onde era possível percorrer mais de uma estrada.

Ele notou que, sempre que ocorrem mudanças no modo de pensar, parece mais cômodo avançar ou recuar na estrada mais ampla: ou se adere incondicionalmente ao passado, negando-se completamente o presente, ou se adere incondicionalmente ao “progresso”,  iniciando-se um rompimento capaz de enterrar de vez o passado morto.

Desse sectarismo unilateral se apresentou a Atenas um novo caminho marcado pela formação da ciência sofística. Logo Sócrates se deu conta de que os sofistas faziam mal uso do esclarecimento racional que ele havia absorvido da sua cidade natal. Mas ele não combatia nem “demonizava” essa racionalidade de todo, nem pretendia travar a roda do desenvolvimento.

O que Sócrates pretendia era devolver à racionalidade o conteúdo e a forma que lhe eram devidos. Assim, ele desmente a todos, recorrendo, inclusive, à própria sofística. Na arte da refutação, ele também fazia uso dos recursos que estavam “na moda”, de forma que ninguém poderia pensar que ele não dominava certas artes do saber, nem confundi-lo com um ignorante usual.

Sócrates compreendia que no sistema antigo devia haver, ao lado de forças que prevalecem sobre o tempo, também forças que poderiam nutrir a esperança de um mundo melhor. A superação da sofística deveria ocorrer pelo “logos”, isto é, pelo conhecimento.

Mas o que isso tem a ver com a virtude? É que a virtude é justamente isto: conhecimento. E somente ela nos compele, de forma irresistível, a fazer o bem. Ela é a unidade que abarca todas as nossas realizações em favor da coletividade.

Sócrates quis dizer: se você deseja encontrar uma saída para a polarização que destrói e desestabiliza a sua “cidade”, tenha consciência de que esta destruição é, antes de tudo, um processo espiritual. Comece buscando você mesmo a virtude e, pelo seu exemplo, outros deverão também alcançá-la.

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